A MAÇÃ E A MAMA I

Belo dia, em fim de tarde, estava absorto na leitura de um romance,

Eis que sinto o desconforto do banco de madeira da praça arborizada.
E sou alertado por duas vozes femininas.
Volto minha atenção para elas e ouço o diálogo, que
ora reproduzo.

— Você – afirma uma das vozes – poderá pensar: “Ela é apenas Maçã.”
— De fato, estranhei – declara a outra voz – logo que ouvi sua fala,
vibrando na praça…
— As minhas amigas, especialmente as que não são coradas como eu, vivem
dizendo, por aí, que sou muito tagarela. Para confirmar minha gloriosa
fama, considero oportuno propor um diálogo entre nós duas, eu Maçã e
você, Mama. Nós duas já estivemos juntas, segundo a descrição do início
do Mundo, apresentada, na Torá dos Judeus, que se faz Antigo Testamento, na
Bíblia Cristã. Eu estava presente na Árvore da Vida e você estava presa
ao tórax de Eva, a mãe de todos os seres humanos!
— Como você fala! – intervém a Mama – e entende das coisas. Pressinto
que já estou vencida, no diálogo proposto.
— Não se subestime, nem imagine serem os outros tão melhores que você.
— Muita gentileza sua. Já me considerei muito importante, quando era
glorificada como a fonte do alimento mais importante e precioso de todos
os seres humanos, no início de suas vidas. Porém ultimamente ando muito
preocupada, pois muitas colegas, irmãs minhas, estão sendo vítimas de
uma guerra desumana e covardemente desigual. São atacadas e destruídas
pela guerrilha do câncer…
E a Mama se põe a soluçar.
— Não se amofine, amiga minha, eu e minhas irmãs também já fomos
muito maltratadas. Atacavam nossas mães macieiras, para abater minhas
irmãs a varadas e pedradas…
— Cara amiga esse tempo já passou, Há poucos dias passei por um pomar
maravilhoso. Logo percebi se tratar de cuidada plantação de macieiras.
— Não se engane, amiga Mama. Hoje somos envenenadas por defensivo-agrícolas. Por vezes chegamos à mesa dos seres humanos cheias de venenos
e elementos bioquímicos nocivos à saúde das pessoas. Dias atrás, fiquei
indignada ao ouvir pessoas afirmando que nós, penetradas por tais
produtos seriamos causadoras de câncer, inclusive o de Mama das mulheres.
— Que horror! E eu que me sentia feliz ao ver mamães de seres humanos,
substituindo o leite materno por maçã raspadinha…?!
— A confusão se espalha por toda a parte. Ouvi um ser humano afirmar
que o fim dos tempos se aproxima…
— Não sejamos dramáticas nem fatalistas!
— É fácil distribuir consoladores conselhos e considerações
apaziguadoras. Veja, porém, de um lado a ambição, relacionada com a
desenfreada produtividade, semeia venenos  em nossas mães macieiras;
por outro, a vaidade, ofuscando a rejeição a filhos, bombardeiam as
fontes do líquido mais precioso à saúde das crianças… Eu classificada
como Tagarela, já não sei se protesto ou se choro…

Súbito, um colibri voa veloz, entre as árvores da praça.
— Gostei de sua presença! – é a voz da Maçã tagarela – veloz beija-flor. Adoro você, pequenino e ágil, você também, já me disseram, é excelente Leva-e-Traz.

CONTINUA…

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