Academia de Letras de Gov. Celso Ramos homenageia Dr. Pedro Grisa e Dr. Paulo Hentz

No dia 16 de julho de 2022, o escritor Dr. Pedro Antônio Grisa foi entronado como Patrono da Academia Catarinense de Letras do município de Governador Celso Ramos. O diretor do Instituto Método Grisa e filho, Prof. Cesar Antônio Grisa, se fez representar pelo Prof. Dr. Paulo Hentz, o qual também foi homenageado com o título de Homem Brilhante, proferindo palavras emocionantes sobre o Dr. Grisa no discurso abaixo. Nós do Método Grisa agradecemos toda a Academia em nome de seu presidente, Prof. Miguel Simão e a Parapsicóloga Janice Mares Volpato pela merecida homenagem ao Pai da Parapsicologia Clínica do Sistema Grisa.

Discurso proferido pelo Dr. Paulo Hentz no Evento

PRONUNCIAMENTO ENTRONIZAÇÃO PATRONO ACADEMIA DE LETRAS DE GOVERNADOR CELSO RAMOS

Paulo Hentz

Saudações protocolares.

Inicialmente, justifico a ausência do Sr. César Antônio Grisa, filho do homenageado como Patrono desta Casa. O Sr. César lamenta profundamente não se fazer presente, mas precisa estar ausente em função de ter postado positivo para a COVID-19, em respeito aos protocolos sanitários e aos presente a este evento.

E por um pedido especial de sua parte, transmito seu afetuoso abraço aos membros da Academia de Letras de Governador Celso Ramos, em especial a seu Presidente, Miguel Simão. Transmito, igualmente, seus profundos agradecimentos pela homenagem que hoje é feita a seu pai. Solicitou-me que o registro dessa gratidão fosse feito na condição de filho e de discípulo do Patrono desta casa.

Sigo com o pronunciamento referente ao Patrono Pedro Antônio Grisa.

Pedro Antônio Grisa foi uma dessas pessoas especiais, que galgou um status elevado no campo da ciência e da literatura, mantendo a simplicidade de sua origem humilde, própria dos pequenos agricultores do Oeste catarinense.

Nascido na região do Contestado, atual território do município de Irani, nos idos de 1941, lidou desde cedo com uma condição física frágil e com dificuldades de visão. Essas dificuldades, no entanto, não o impediram de construir uma carreira acadêmica marcante.

Sua formação rigorosa, em seminário católico, lhe proporcionou o contato com a cultura letrada, com os conceitos complexos da Filosofia e da Teologia, além da literatura clássica, nacional e internacional. Sua curiosidade o fez aproveitar todas as oportunidades para aprender tudo o que suas condições lhe permitiam.

Com a chegada da maturidade, com a percepção de que a vida religiosa não lhe traria a realização plena, ingressa no Magistério, carreira na qual se dedicou a ensinar diferentes disciplinas, tanto na educação básica quanto na educação superior. De volta a sua região de origem, exerceu atividades docentes em diferentes municípios do oeste, meio-oeste e planalto-norte catarinense. E desde muito cedo, acumulou a docência com atividades literárias, colaborando com jornais regionais, incentivando a formação e o desenvolvimento de grupos teatrais, e escrevendo. Crônicas, poesias, textos de crítica social, foram os textos que o introduziram no mundo literário.

E paralelamente às atividades literárias, aprofundou estudos na área da Parapsicologia. Junto com outros parapsicólogos, percorreu diversos estados brasileiros realizando palestras de divulgação dos conhecimentos dessa área, consolidando sua condição de Parapsicólogo.

E foi essa condição que lhe permitiu, junto com um grupo de pioneiros, fundar o Instituto de Parapsicologia e Potencial Psíquico, em Florianópolis, no ano de 1984. As pesquisas e os estudos realizados por esses pioneiros permitiu, uma década depois, em 1995, a criação do Curso de formação de parapsicólogos clínicos, curso este que passou a galgar a condição acadêmica de Curso de Pós-graduação Lato Sensu em 2006, em convênio com Instituições de Educação Superior.

Esses breves dados históricos tiveram tão somente a intenção de situar o Dr. Pedro Grisa como um ser humano com a trajetória de um intelectual.

Pretendo frisar, dentro dessa trajetória, dois aspectos: sua importância para o enriquecimento da área da Parapsicologia e sua condição de escritor.

Como parapsicólogo, Pedro Grisa não se limitou a seguir o fluxo e colaborar com o que já estava sendo produzido nesta área. Foi além e balizou suas atividades pela busca de instituir uma nova escola de Parapsicologia.

Por décadas, esta área do conhecimento foi palco de disputa entre duas perspectivas importantes e poderosas: a Parapsicologia ligada à cosmovisão católica e a ligada à cosmovisão espírita. Não se trata de fazer nenhuma referência desairosa a qualquer uma dessas perspectivas, mas acima de tudo prestar-lhes homenagens e reconhecimento, uma vez que ambas – católica e espírita, cada qual à sua maneira, deram significativa contribuição para a consolidação da Parapsicologia no Brasil. A existência, no entanto, de vieses conflitantes, fazia com que muitas vezes as suas energias fossem despendidas no combate ao contraditório.

Grisa ousou traçar um caminho distinto. Ancorado no adágio que repetia sempre: “somar para multiplicar; não dividir para não subtrair”, buscou ancorar sua atividade no esforço da complementariedade, e não da exclusividade. Pautando suas atividades por uma linha independente de Parapsicologia, deu-se a oportunidade de perceber em que as duas linhas muitas vezes em oposição se complementavam e em que efetivamente divergiam, e não se envolveu nos conflitos doutrinários, para permanecer independente de doutrinas e religiões, buscando tão somente a cientificidade de seus conceitos.

Aprendeu a navegar em um mar muitas vezes revolto por disputas, sem nunca as assumir para si. Dialogou com o idealismo e com o materialismo; com a psicologia cognitivista e a interacionista; com a parapsicologia e a psicanálise. Manteve-se, nesse navegar, radicalmente humanista, compreendendo o objeto da ciência à qual se dedicou – a paranormalidade, como atributo humano, devendo, portanto ser estudada a partir do ser humano e não de qualquer outra categoria.

Mas o que fez de Pedro Grisa, efetivamente, uma figura expoente, foi o fato de elevar a Parapsicologia a um novo patamar. Até ele, a tônica das diferentes abordagens da parapsicologia era a compreensão e a interpretação dos fenômenos paranormais. A partir dele, oportunizou-se olhar para essa ciência como um caminho para continuar compreendendo os fenômenos paranormais, avançando para a compreensão da personalidade humana, resultando num método analítico e terapêutico, que se denomina Parapsicologia Clínica.

A Parapsicologia Clínica criada por Grisa, embora seja, antes de mais nada, Parapsicologia, por utilizar os saberes dessa ciência, pode ser vista, igualmente, como uma teoria de personalidade, uma escola de psicanálise e um método de hipnoterapia. Uma hipnoterapia focada na prospecção de registros traumáticos e reprogramação mental pela compreensão.

Pedro Grisa foi um pesquisador e um entusiasmado divulgador de seus achados, assim como dos achados de outros pesquisadores de sua área. Na busca da socialização dos saberes da parapsicologia e, particularmente, da Parapsicologia Clínica; no afã de utilizar esses saberes para proporcionar a muitos uma melhor qualidade de vida, produziu diversos livros, que citarei brevemente, categorizando-os, não na ordem cronológica de sua publicação, mas pelas afinidades temáticas.

Numa primeira categoria de publicações, que tomo a liberdade de qualificar como compreensão da paranormalidade, escreveu O poder da fé e a paranormalidade, Paranormalidade um potencial mental e Eu sou paranormal?

Nesta categoria, é pertinente assinalar que Grisa se distanciou das duas concepções de paranormalidade então reinantes no país, de um lado, como mediunidade e de outro, como perturbação mental. Assumiu a posição de que a paranormalidade é um potencial mental a ser desenvolvido, independente se a mediunidade faz parte do quadro de referências da pessoa ou não, assim como se contrapôs à compreensão, por ele claramente considerada equivocada, de que a paranormalidade constituía perturbação mental

Numa segunda categoria, que qualifico como compreensão da personalidade, escreveu O jogo e a estrutura das personalidades e Compreendendo a homossexualidade.

O jogo e a estrutura das personalidades, é possível afirmar sem receio de cometer equívocos, constitui a base de uma nova teoria da personalidade, analisando fatores de ordem histórica, social, familiar e individual na constituição da personalidade do indivíduo. Junto com essa base teórica para a análise da personalidade, estabelece o vínculo com as programações mentais subconscientes e com as diferentes formas pelas quais os indivíduos se relacionam com a paranormalidade.

Compreendendo a homossexualidade lança luz sobre a homossexualidade, a homoafetividade e todas as condições de gênero que não se enquadram no sexo biologicamente determinado. E o faz de forma analítica, acolhedora, não discriminatória, numa postura livre de homofobia, transfobia e demais posições muitas vezes incentivadas, na atualidade, por pessoas que teriam o dever cívico de combate-las.

Os livros diretamente focados na autoterapia são:  Liberte seu Poder Extra e A cura pela imposição das mãos.

Como a técnica da hipnose é um dos elementos importantes no processo terapêutico da Parapsicologia Clínica, a obra Hipnose humano pangrisiana e a reprogramação pela compreensão cobre este aspecto do seu método terapêutico.

Já a obra Criadorcentro e a nova espiritualidade lança luz sobre o conceito de Espiritualidade, colocando-o para além das doutrinas religiosas, sem, no entanto, excluí-las do contexto.

Já o seu veio poético foi mais abundantemente derramado pelas páginas de Paixão que se faz amor, Interrogação vital e Perspectivas proféticas.

Além dessas obras, dezenas de áudios focados na autoterapia foram produzidos, com o objetivo de auxiliar as pessoas na busca de alívio para as mais diferentes perturbações que possam ter seu fundamento em informações perturbadoras gravadas no subconsciente.

Eu conheci Pedro Grisa há muitos anos, quando um amigo comum me emprestou o seu livro O jogo e a estrutura das personalidades, então recém-publicado. Na época eu exercia a docência nas disciplinas de História, Geografia e Sociologia. O conteúdo desse livro se me afigurou gigantesco, de modo que, a partir de sua leitura, modifiquei radicalmente a abordagem dessas disciplinas.

Depois disso passei alguns anos sem ter contato com seus escritos. Em 2004, por necessidade de procurar terapia em função de um processo depressivo que me oprimia, voltei a ter contato, não só com seus escritos, mas com sua pessoa. Acabei não me tornando somente um cliente de suas terapias, mas na primeira conversa fui seduzido para a realização do curso de formação de parapsicólogos. Depois de formado, passei a atuar junto com ele e os demais professores na condição de docente. Tivemos alguns anos de convivência, que me proporcionaram a possibilidade de conhecer o ser humano, o escritor e o parapsicólogo Pedro Antônio Grisa.

O ser humano que conheci foi profundamente marcado pela empatia. Embora tivesse no zelo por sua família o foco principal de sua atenção, esteve longe de se limitar a esse contexto. Teve sua vida marcada por um profundo amor por toda a humanidade e pela natureza. Tinha preocupação com o sofrimento de quem quer que fosse, humano ou de outra espécie, porque em sua compreensão da espiritualidade, todos os seres do universo são filhos do mesmo Criador, portanto dignos de cuidados e de amor. Foi justamente essa empatia que o fez criar o método terapêutico, que conjuga saberes da Física, da Filosofia, da Teologia, da Psicanálise e da Parapsicologia. Utilizou seus saberes para sistematizar uma terapia com o potencial de auxiliar, no menor tempo possível, os que sofrem, a superarem seus sofrimentos.

O escritor Pedro Grisa estava sempre escrevendo. Em função de sua limitação visual, valia-se da dedicação de auxiliares, para os quais ditava os textos e, nos últimos anos, evoluiu para o uso de um aplicativo de computador que escrevia por ele. O que me chamava a atenção era a sua atividade constante, nos poucos momentos em que não estava atendendo pessoas, com o foco no livro que escrevia e no próximo a ser escrito. Era como se, enquanto parisse uma obra já estava gestando outra, procurando abarcar o maior número possível de aspectos que interessavam ao processo de evolução das pessoas.

O parapsicólogo Pedro Grisa foi um pioneiro. Pioneiro na abertura dos caminhos para a estruturação da Parapsicologia Clínica. Pioneiro na abertura de uma escola para a formação de parapsicólogos na linha que havia concebido. Pioneiro na difusão de seu curso de formação por diversos estados da federação, oportunizando a muitos o acesso aos saberes que sistematizou. Pioneiro na elevação da Parapsicologia Clínica à condição acadêmica.

Como é o curso normal da vida de todos, desde o mais grandioso ao mais humilde, coube a Pedro encerrar, em dado momento, suas atividades terrenas. Desde 2017 ele se fez ausente de sua sala de atendimento, de seu curso, de seus amigos e de sua família. Ausente fisicamente, mas com uma presença permanentemente marcante entre todos os que conhecem e passam a conhecer sua obra. Se assim não fosse, não estaríamos hoje aqui, prestando-lhe essa homenagem póstuma.

Para mim, que tive a alegria de conviver com ele por pouco mais de uma década, restam saudades. Saudades das conversas agradáveis que costumava ter com ele em cada visita. Saudades de seus conselhos sábios. Saudades de sua risada sonora quando achava graça de algo que lhe fosse dito. Saudades do ser humano grandioso, do escritor talentoso e do terapeuta dotado da mais profunda empatia que possa existir em um ser humano.

É essa a imagem que dele guardo. É essa a imagem que decidi carregar comigo.

Muito obrigado.

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