Nasci numa tarde de abril
Entre as verdes matas catarinenses,
Sob um céu claro e límpido,
Como claras e límpidas são as coisas,
Onde tudo é puro, simples e sagrado.
Claras e límpidas são as manhãs de sol,
Exultantes de vida e despertar;
E as noites de estrelas e lua,
Envoltas em lençóis fecundos de auroras.
Claros e límpidos são os córregos que escorrem
sob os ramos verdes e sobre as lajes negras.
Minha infância foi clara e límpida
como água de cristalina fonte,
com alvuras de cascatas.
Mas o tempo galopou sobre a vida
e os anos me arrebataram em sua corrente…
E eis-me nessa São Paulo enorme,
onde tudo é fumaça e pressa,
e a vida é luta sem trégua;
Onde os prédios se erguem em floresta geométrica,
e o tráfego rasteja em regatos metálicos;
Onde, à noite, há estranha via-láctea de luzes,
e há vultos canhestros nas sombras.
Por isso meu canto é
ora claro e límpido como
os dias de minha infância,
ora de angústia e turbulência
como o frenético nervosismo da cidade.
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* O poeta retrata, nestes versos, o claro e o escuro, próprio dos sentimentos tanto do poeta que se encanta com os contrastes da realidade que o cerca, quanto do depressivo, em sua luta pela vida. Ora percebe-se tomado pelo entusiasmo e pela alegria diante da beleza externa, promessa de vida; ora sente-se mergulhado na fumaça e na tristeza, perturbadoras ameaças.