Cansaço

Estou, cansado, Senhor!

O espírito quer fugir;

quer voar, voar para longe…

 

O corpo quer parar;

Quer deitar, deitar e dormir…

 

Estou cansado…!

 

Mas o quê?

O Desânimo e a fadiga

a dominar-te?

 

Por que fugir?

Não vês quanta beleza te circunda?

Não vês quanta alegria, abrindo suas pétalas?

Não vês quantos sorrisos, esperando teu olhar?

Não vês quantas mãos se estendem, para um aperto amigo?

Por que fugir, sem destino,

quando te cercam ofertas de felicidade?

 

Por que parar,

quando tantos te acenam?

Esperam por ti.

 

Há tantos ao longo do teu caminho,

esperando por ti.

Há tantas frutas a apanhar,

para distribuir.

Há tantas flores a colher,

para oferecer.

Há tantas cantigas a aprender,

para alegrar os corações…

Há tantos sorrisos a esculpir,

no sofrimento,

para o alento

dos que vacilam;

para iluminar de alegria

a estrada sombria

dos que andam no escuro,

no tédio amargo da angústia.

 

Por que fugir?

Por que parar?

Quando há tantos para amar;

porém, são

tão poucos,

os que sabem amar,

dando tudo,

sem nada esperar,

nem pedir.

 

  • • •

 

* Cansaço descreve, inicialmente, a profunda depressão e o quase-desespero do suicida pois, parecem fechar-se todas as perspectivas de futuro.

O autor, nesta ocasião mora no alto da colina, situada ao lado do maior cemitério da América Latina, em Vila Formosa, São Paulo capital. Está tão entediado da vida que prepara-se para o suicídio. Já está de pé sobre uma cadeira em frente a janela de seu quarto que dá para o cemitério.

A janela situa-se, no terceiro andar do Seminário Maior dos Missionários do Sagrado Coração de Jesus.

Olhando, em direção ao cemitério, está de mãos presas ao cinto, para mergulhar de cabeça sobre a laje da calçada que situa-se a dez metros abaixo.

Fecha os olhos para saltar; porém, no mesmo instante, alguém abre a porta do quarto e exclama:

– Pedro, o que você está fazendo?…

-Pedro, o poeta depressivo, salta – instintivamente – para trás e, automaticamente, responde:

– Na-da…

Quando o amigo sai do quarto, o poeta senta à mesa e escreve compulsivamente as duas primeiras estrofes do poema e conclui:

– “Estou cansado…!” Interrompe a redação, desfechando um soco na mesa e desabando sobre os próprios braços…

Ouve-se, ao longe – nos espaços infinitos do coração – o eco das palavras “…Aos bravos só pode exaltar”.

“Mas o quê?

O desânimo e a fadiga

a dominar-te?”

O poeta depressivo, aos poucos, transforma-se no profeta de um novo tempo, fazendo seus os olhos sempre benévolos, positivos e construtivos de Michel Quoist.

E Cansaço se transforma num poema de luz e vida, amor e entrega total ao seres humanos.

“Quando há tantos para amar;

            porém, são

            tão poucos,

os que sabem amar,

dando tudo,

sem nada esperar,

nem pedir.”

(Texto extraído do Livro Interrogação Vital de Pedro A. Grisa publicado pela Edipappi e Comercializado pela Lipappi )

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