por Prof. Dr. Pedro Antonio Grisa
Dr. Pedro Antônio Grisa diz:
Ao cursar Psicologia, ainda nos anos 60, meus professores insistiam para que eu fizesse Psicologia Clínica, mas minha posição era simples, clara e direta:
1º – Meu principal objetivo ao cursar Psicologia estava bem definido: adquirir conhecimentos para os romances de cunho psicológico que pretendia escrever. Pretendia superar os romances psicológicos de Machado de Assis. Contudo, jamais teria a pretensão de superar o mestre Machado no campo das letras e na qualidade do idioma. Meu ideal era contribuir para que as pessoas menos letradas pudessem buscar um maior auto-conhecimento e ampliar sua integração no mundo sócio-político e econômico-cultural. Visava dar a minha contribuição mediante meus poemas e particularmente, por meus romances;
2º – Informado de que uma psicoterapia poderia estender-se ao longo de um, dois e até cinco ou dez anos, retrucava: “Jamais suportaria a lentidão desse processo, no ritmo tartaruga com 1 à 2 sessões semanais. Sou da Era Tecnológica e não da Era Medieval. Quero andar, no mínimo na velocidade do Fusca; e, se possível, na velocidade de avião a jato”.
A Hipnose de palco
Em 1972, sou professor de Psicologia e Literatura Brasileira no colégio Ivo Silveira, em Herval d’Oeste (SC), Curso Normal, quando a Direção permite que o professor Fause Kfouri, de uma palestra gratuita para os normalistas, sobre hipnose, visando divulgar o curso que estaria ministrando no Clube 10 de Maio, em Joaçaba (SC), na semana seguinte.
Assisto à palestra e participo do curso. E a hipnose começa a fazer parte de minha vida. As demonstrações do poder da hipnose, apresentadas por Kfouri, tanto no colégio, quanto no clube, instigaram minha curiosidade.
Dos ensinamentos e demonstrações de Kfouri, três assuntos se destacaram para mim:
1 – O pensamento, repetido inúmeras vezes: “Valorizem-se seres humanos!” O parapsicólogo enfatiza o Poder da Mente e as potencialidades humanas em geral.
2 – As experiências de regressão de memória à vida intra-uterina realizadas com pessoas durante os exercícios de hipnose, levantam diferentes questões para mim.
3 – A facilidade em buscar a causa de determinados traumas, bloqueios, fobias das pessoas submetidas a técnica de hipnose.
Como afirmo freqüentemente: “Se me dão meia pista, levanto vôo”. Após as experiências de Fauze Kfouri, fundamentado nos conhecimentos que já possuía sobre o Ser Humano, de natureza psicológica, filosófica, sociológica, cultural e religiosa, fui à busca de livros de Hipnose. Qual não foi minha surpresa, ao constatar que eram extremamente repetitivos. Variando, apenas, de um autor para outro, as técnicas de indução hipnótica e os casos relatados como ilustração. A essência das informações sobre hipnose, sua conceituação, processo de indução hipnótica e estado hipnótico, Kfouri havia ensinado e lustrado em seu curso.
Passo então a realizar minhas experiências com alunos que tinham bloqueios na aprendizagem, obtendo resultados animadores. A década de 70 foi marcada por uma contínua busca de novos conhecimentos na área da hipnose, especialmente em livros.
Questões fundamentais
Para meu espírito analítico, inquiridor, sempre em busca das mais lógicas explicações científicas, algumas questões chegavam a irritar-me. Por exemplo:
1º – Em nenhum autor encontrava uma definição de hipnose, dizendo claramente: hipnose é isso. Todos os autores enrolavam em genéricas e longas conceituações, como: “Hipnose assemelha-se a um estado sonambúlico, em que o indivíduo reage a determinados comandos dados pelo hipnotizador. Hipnose é sono que não é sono…”
Nenhum autor apresentava a chave da questão: definição clara do que é Hipnose. Os autores pareciam temer posteriores questionamentos ou cometeram grave disparate científico.
2º – O que não faltava nos livros de hipnose eram Técnicas de Indução Hipnótica, fundamentadas especialmente nos sentidos da visão e da audição: Objetos brilhantes ou em movimento e os mais diversificados sons repetitivos.
Observando uma realidade bem brasileira, fantasma não extinto, exclamava eu: “Tudo o que inflaciona, perde valor!” E refletia: “Por que tantas técnicas? É porque nenhuma delas é efetivamente eficiente? Ou, em sua essência, todas são iguais? Diferindo apenas nas aparências?”
3º – Os autores também descreviam muito sobre os estados hipnóticos, apresentando inúmeros casos para ilustrar a infinita gama de possibilidades. Mais uma vez, a quantidade de informações pareciam sufocar a qualidade dos conhecimentos.
4º – Também falava-se muito dos cuidados que o hipnotizador precisa ter na prática da Hipnose. Ofusca-se aqui os poucos ensinamentos objetivos com a capa do mistério da aparente responsabilidade profissional. Em muitos textos ficam evidentes duas questões:
· Se de um lado é inconteste a “responsabilidade profissional” e os cuidados e respeito que é preciso ter com relação ao seres humanos submetidos a um processo hipnótico;
· De outro lado, a disputa pelo poder corporativista também fica evidenciado. Hipnose só pode ser praticada, pois, por essa ou aquela categoria profissional…
5º – Mas uma questão me deixava indignado: quando os autores falam de Hipnose Leve, Média ou Profunda. E outros, mais detalhistas e entusiasmados falam em sete ou dez graus de Hipnose.
Para não rasgar o livro, freado pelas programações das Civilizações da Carência, ria sozinho, satirizando: “Quer receber diploma de ignorante, seu tapado?” E era como se o autor estivesse diante de mim. E apontando o dedo em riste, perguntava: “Se você não sabe o que é uma garrafa, como é que você pode me dizer se ela está cheia, pela metade ou vazia? Se você não sabe o que é Hipnose, como é que pode falar em Hipnose leve, média ou profunda?”
Novas Experiências de Hipnose
Em 1982, associando-me ao parapsicólogo catarinense Edgar Schitz, iniciamos uma turnê, ministrando cursos pelo Rio Grande do Sul e outros estados do território nacional. Ele faz demonstrações de palco, eu ministro cursos de Treinamento e Controle Mental e faço orientações parapsicológicas, utilizando a Hipnose para eliminar bloqueios, traumas e fobias.
Lá no palco, a fim de demonstrar que a pessoa está hipnotizada, Edgar costumava introduzir uma agulha, na mão da pessoa hipnotizada, no músculo situado entre o indicador e o polegar, sem ter a mínima preocupação em desinfetá-la.
Imitando o grande hipnotizador de palco, quando realizo uma experiência de hipnose, em entendimento individual, a fim de determinar o famoso “grau de hipnose”, aprendo a beliscar a pele da mão ou braço da pessoa hipnotizada.
Normalmente gastava um tempo significativo para obter um resultado razoável. Por vezes, sentiam-se frustrado e chegando às raias do desanimo. Mas não sentia-me no direito de frustrar as pessoas que vinham procurar minha ajuda, cuja expectativa havia se elevado com as demonstrações de Schitz.
Mesmo quando as pessoas parecem não estar hipnotizadas, estimulo-as a entrar no processo de regressão de memória, buscando recordar fatos relacionados com seu objetivo.
E qual não é minha surpresa, quando observo que as pessoas aceitam facilmente a sugestão e algumas chegam a declarar estar recordando fatos da vida intra-uterina, descrevendo detalhes surpreendentes, confirmados, muitos deles, pela mãe do hipnotizado.
Outra surpresa, constato que as pessoas que pareciam não estar em significativo estado hipnótico, obtinham resultados mais rápidos e definitivos em relação à libertação de fobias e bloqueios.
Entusiasmado com os resultados, declaro ao meu companheiro:
– Edgar, descobri que existe hipnose consciente.
– Grisa, você não sabe fazer hipnose, por isso vem com essas desculpas – exclama Schitz, sem esperar qualquer explicação.
Fiquei constrangido e gritei em meu mundo interior: “Ainda vou elucidar essa questão, cedo ou tarde!” Seis meses depois, lendo o livro HIPNOTISMO de Piter Blite, a questão era esclarecida: A Hipnose consciente é uma realidade.
Novas e novas experiências, inúmeras e diversificadas observações, análises e mais análises dos textos principais dos diferentes autores e finalmente surge a resposta automática, apresentada por meu Subconsciente, após seu fantástico processo de comparação a simplificação, de padronização e generalização, conduzido sob a Percepção do todo:
Hipnose é fixar a Mente num elemento.
É a definição simples, objetiva e essencial, como todas as imortais definições. Apresentada a definição de Hipnose, pelo automatismo do Subconsciente, cabe agora sua análise e explicação, sob a luz da razão, própria do Consciente.
Cabe pois, observar que eu disse “Fixar a Mente”; não disse “Fixar a atenção”.
Sim, pois FIXAR A MENTE pode ser:
1. “Fixar o Subconsciente”, uma vez que ele pode funcionar sozinho, por seu automatismo, funcionando autonomamente sem a participação do Consciente.
2. Fixar o Consciente MAIS o Subconsciente, uma vez que o Consciente só funciona com a participação do Subconsciente.