Quando Grande Parte da Espécie Humana se movimenta e se agita, para celebrar o Natal, cada qual a seu modo, sou questionado por amigos, leitores e fãs de minhas atividades:
– Que o Dr. Grisa tem a nos dizer do Natal?
Poderia estimular a essas pessoas a um exercício de memória e de Imaginação, respondendo à interrogação, com outra pergunta:
– A qual dos Grisas você está dirigindo seu questionamento?
Explico-me:
Hoje, 16/12/2013, com 73-setenta e três anos de concebido, poderia responder-lhe, segundo as diferentes faixas etárias, já vividas por mim.
O Bebê Pedrinho
O bebê Pedrinho, ainda viajando no balaio do útero materno, com certeza responderia:
– O Natal, para mim foi um período de muita angústia, contudo vivido com muita Esperança; pois minha mãe rezou muito, para o Menino Deus, que lhe desse um filhinho que vivesse por muito tempo e não morresse como outros quatro, que antecederam à presente gravidez. Neste momento o Natal, para o Pedrinho, foi um misto de medo, dúvida; porém, acima de tudo, de Esperança e Fé em Deus e na Sagrada Família. E mamãe e eu devemos ter dado, junto com papai, um grande e emocionado abraço a meu irmão Lírio, o único sobrevivente, entre meus irmãos, até aquela quadra da vida de minha família.
Foi pelo Natal de 1940, que papai, observando com mais atenção o corpo de mamãe, pergunta-lhe:
– Mulher, você está grávida?
Mamãe baixa a cabeça, com medo de alguma reação inesperada de papai, responde:
– Sim, sim, estou…
E papai exclama:
– Que bom, mulher! Quem sabe que este vive por muitos anos…! – com certeza foi a maior bênção de papai, recebida por mamãe e por mim – E, no próximo Natal poderemos festejar o Nascimento de Jesus, com nosso “bambino” nos braços!…
O Natal da Infância do Pedrinho
Todos os Natais de minha infância foram marcados pela pobreza, mas também por muita animação e alegria.
Ora papai, ora mamãe explicavam que, pela noite de Natal, passaria, por todas as casas, São José, puxando a mulinha, a qual transportava Maria com o Menino Jesus nos braços.
-Como a viagem deles é muito longa, a mulinha precisa ser bem tratada.
Por isto, vocês precisam arrumar os chapéus com milho bem escolhido. São José vai recolher o milho e, em seu lugar vai deixar um presente para o dono do chapéu!
– Prestem muita atenção, meninos! – alerta um de nossos pais – quem for obediente e ajudar em casa, irá receber o presente bem bonito; porém, aquele que for desobediente e não auxiliar nas tarefas de casa ou da roça irá receber uma boa varinha, para o pai ou a mãe, educar o malandro. Jesus veio para nos ensinar coisas boas, para vivermos em Paz, tanto em família, quanto com os vizinhos.
Era uma festa, na véspera de Natal, prepararmos os chapéus com milho de qualidade. Depois, colocar os chapéus atrás da porta de entrada da casa, a qual ficaria entreaberta, para São José perceber que estaria autorizado para entrar, pegar o milho para a mulinha e – com certeza deixar um presente para cada chapéu.
A noite, em véspera de Natal era marcada por compenetradas preces, rezando por muitas pessoas; familiares, parentes, amigos e para toda a humanidade, desejando Paz e Amor para o mundo inteiro…
1.3 Natal na Adolescência
Aos 16-dezesseis anos, estou no Seminário da Raia, em Pirassununga/SP.
Nossos professores e diretores são padres holandeses da congregação dos Missionários do Sagrado Coração de Jesus, os MSC, sempre muito dedicados, competentes e de vivência cristã profunda.
O tempo do Advento e a preparação para o Natal é maravilhosa: missas especiais, cerimônias solenes e encantadoras, músicas e cânticos entoados por corais, como eu jamais havia conhecido.
Meu coração de adolescente vibra de entusiasmo e prometo a mim mesmo que eu seria Padre, para desfrutar de toda beleza e grandeza divinas de nossa Igreja Católica.
A Noite de Natal
Na Noite de Natal de 1957, tudo foi deslumbrante e fascinante, para meus olhos, ouvidos e coração juvenil.
Não me recordo como foi. Repentinamente estou diante de uma enorme mesa revestida de um sem-fim de novidades: frutas, castanhas, amêndoas, nozes, doces de diferentes formatos e cores, chocolates em formas e tamanhos diversificados e bombons, como jamais eu poderia ter sonhado.
Contudo, antes de nos aproximarmos desta mesa, foi servido jantar, preparado com as mais deliciosas comidas, até arroz à grega…
Eu estava estático, observando tanta fartura e respirando odores indescritíveis…
– Vamos nos servir, Pedrinho! – convida-me um padre, todo gentil, que parece perceber meu embaraço – hoje é Natal, é festa!
Pego um prato, ponho nele qualquer coisa e me retiro para um canto de uma das mesas mais afastada do reboliço, do vaivém de meninos, jovens e padres.
Um nó sobe e parece trancar minha garganta. E clama uma voz dentro de mim:
– Meus irmãos e meus pais estão lá em casa e não têm nada disto! E os pobres pelo Mundo?…
O mais de pressa possível, retiro-me daquele ambiente tumultuado e vou à Sala de Estudos. Pego uma Bíblia, abro no Novo Testamento e, como por encanto, vejo-me lendo o Evangelho, segundo São Lucas. “… os anjos cantam, nos céus de Belém, anunciando o Salvador…”
-Que está fazendo aí, sozinho? – é a voz carinhosa do Padre Tiago…
Ele se aproxima, olha o que estou lendo e diz:
– Bem escolhido, Pedrinho, São Lucas é o único Evangelista que fala dos anjos, cantando na Noite de Belém…
Quando fomos dormir, deitei quase com fome, mas meus pensamentos estavam embalados pelas vozes dos anjos, na Noite de Belém…
NATAL no Seminário Maior
Seminário Maior era assim denominado o período de estudos, depois do Noviciado e realizados os Votos Temporários, quando os seminaristas já usavam batina.
Um dos estudantes de Teologia orientava as atividades e, eu e outros colegas, impulsionados pelo entusiasmo e pela alegria, própria da época de Natal, escolhíamos e transportávamos vasos de folhagens e de flores… Tudo para enfeitar a capela e para preparar o Presépio, tão bonito como eu jamais tinha pensado…
Chegada a véspera do dia 25 de dezembro de 1964, todos estávamos ansiosos, especialmente os que, como eu, haviam se dedicado na decoração da capela, para a missa solene da Noite de Natal e na preparação do Presépio.
– Como está lindo o Presépio! – exclama uma voz feminina.
Olho e vejo uma freira fazendo o Sinal da Cruz, diante do Presépio.
Devagarinho, em completo silêncio, vou me aproximando…
– Tenho certeza, Pedrinho, isto aqui tem um dedinho seu. Há dias, vi como você e o Itelvino Giacomelli cuidavam das flores e do jardim…
– Noite feliz… noite feliz…
Era o coral dos homens e moços embatinados ressoando pela nave da linda capela…
A Missa Solene, toda cantada em Canto Gregoriano, parecia querer me levar para o Céu…
Súbito, levo um susto e meus lábios quase exclamam:
– Não! Não quero morrer já. Nem mesmo se fosse para ir para o Céu!…
Depois da missa repetiu-se, como nos anos anteriores a hora da festa e da comilança, lá no refeitório, passando anteriormente pelo Salão Nobre, onde cada um recebia um presente. Para mim, mais que sonho de alegria era pesadelo de angústia, recordando a pobreza de meus pais e irmãos… E, quanta fome e pobreza no Mundo?
Ao ingressar no refeitório – agora eu já havia apreendido – fui enchendo os grandes bolsos da batina e também das calças com bombons e doces bem embalados.
Lá em casa, nas férias que começam a semana próxima, farei uma festa de moço rico…
A distribuição dos doces, para meus irmãos e sobrinhos era o melhor do Natal.
Tinha aprendido a estória de São Nicolau. Pois, eu me sentia o próprio!”
Muitos Outros Natais
Os anos vão passando e com eles, outros tantos Natais, sempre com características semelhantes as acima descritas, por vezes marcados pela dança de diferentes cenários, sentimentos, pensamentos e emocionadas considerações.
Em 1967, passo o Natal em casa de meus pais, no interior do município de Irani/SC.
Renascem em mim as mais fortes lembranças da Infância, da Adolescência e das solenes Noites de Natal de meu tempo de Filósofo e Teólogo, em Vila Formosa, na cidade de São Paulo, a Capital Paulistana.
Tudo vem envolvido por profunda nostalgia e melancolia… Quase angústia…
Natal de 1968
A véspera de Natal de 1968 marca o início de um novo tempo em minha vida.
Estou em Joaçaba/SC, em casa dos pais de minha querida Adelaide Therezinha Pozza. Meus Pais também estão presentes. É o dia de nosso Noivado, com entrega de alianças e tudo o que um momento como este merece.
Contudo, no dia de Natal sou surpreendido por minha noiva, que me entrega um lindo estojo de produtos de barbear, desodorantes e perfumes.
– Isto lhe será muito útil, nas tantas viagens que você faz.
– Especialmente para visitar você – retruco, um tanto encabulado…
Diante de tudo isto, eu me sinto confuso….
Ao falar a um amigo de minha surpresa e confusão, o amigo sorri e afirma:
– Vamos à farmácia e você lhe compra ao menos um bom perfume, que lhe entregará, antes do almoço…
Confesso, eu estava todo sem saber o que pensar, dizer ou fazer…
Minha noiva Adelaide Therezinha Pozza demonstrou ter gostado do meu presente…
Eu ainda não me dera conta que estava ingressando em família de tradições aristocráticas, embora já tivessem passado os tempos de glória e fausto maior…
Os Natais com Nossos Filhos
Os Natais, com a presença de nossos filhos, foram sempre os mais encantadores, animados e felizes. Um sempre melhor que o outro.
Porém o mais marcante, para mim, foi o celebrado em Araucária/PR.
Era o Natal de 1979, nós estávamos morando na pequena cidade do Paraná, sede de refinaria da Petrobrás e próxima à nova Cidade Industrial de Curitiba.
Naquele ano, eu havia criado Curso Supletivo de I e II Grau, funcionando à noite, em escola municipal, próxima ao Seminário dos Franciscanos.
Certo dia, retornando à tarde, da sede do Supletivo, acompanhado por minha Amada, Therezinha exclama, apontando para uma araucária, que se erguia a beira do caminho:
– Pedro, olha aquele pinheiro! Veja quanta barba de bode, em seus galhos mais baixos. Essa barba é ótima para enfeitar presépio. Quantas vezes, lá em Joaçaba, íamos meus primos, irmãos e eu recolher, com sacrifício, a barba-de-bode, que crescia lá nas árvores, no mato, atrás do Colégio Cristo Rei…
Suspira e realiza uma demonstração de saudade e afirma:
– O Presépio, que nós fazíamos, era sempre o mais bonito…!
Enquanto voltávamos para casa, prometi a mim mesmo que iria convidar nossos filhos, César e Rosângela e iríamos montar o presépio mais bonito, já feito em nossa casa!
Adquirimos um pinheirinho de dois metros de altura ou mais.
Na sala de nossa casa montamos um grande Presépio, cujas imagens de gesso colorido compramos numa loja de Araucária.
A barba-de-bode do pinheiro à beira do caminho, eu, César e Rosângela fomos retirar, no sábado à tarde, oito dias antes do Natal.
Estávamos tendo dificuldade para realizar a colheita, quando um antigo morador do bairro, um senhor de origem polonesa, veio nos auxiliar.
Voltamos para casa animados e Rosângela comenta:
– Será que foi Jesus Menino que mandou aquele homem nos ajudar? Ele foi tão querido!
-Que nada – intervém César – ele me disse que estava lá porque os amigos de futebol não compareceram ao jogo que geralmente eles participam, aos sábados…
Therezinha tomou a dianteira, na montagem do Presépio. A seu pedido a seu pedido, arranquei touceira de grama, ao lado da casa, a fim de montar um pequeno gramado, sobre o qual foram colocadas imagens de ovelhas, que pareciam pastar.
A noite, depois que as crianças estavam dormindo, Therezinha e eu colocamos embaixo do pinheirinho, os presentes, que pela manhã de Natal, após ouvir o disco de Noite Feliz, cantarmos com o coral e rezarmos uma prece, Rosângela e César abriram os pacotes com alegria e festa…
Beijos e abraços foram trocados, desejando uns para os outros votos de boas festas e um maravilhoso ano novo!…
Em momento propício, aproximei-me do Presépio e fiz um pedido para que Sagrada Família nos desse a graça de sempre sermos uma família unida, participativa e feliz.
Que Grisa tem a dizer, neste Natal?
Se você considerar que ainda não me manifestei como Criador do IPAPPI e Mentor do Sistema Grisa, digo-lhe tenho muita saudade do tempo que tinha menos compromissos e não era o Grisa de hoje.
Foi por isto que elaborei o texto acima.
FELIZ NATAL E MARAVILHOSO 2014!
FELICIDADES A TODOS!
20h e 40 min do dia 18/12/2013, de nosso Ninho Encantado do Bom Abrigo, Florianópolis/SC.