ATÉ NO CÉU?
Eu tenho 16 anos e estou participando da missa dominical.
O padre celebrante abre aquele livro enorme, de capa e bordas douradas e proclama:
– Palavras do Santo Evangelho, segundo… E Jesus ensinava:
“O reino dos céus é semelhante a… Um dia o semeador saiu a semear a sua semente, e à noite, veio o inimigo e semeou joio…”
Súbito, não ouço mais coisa alguma. Mergulho de cabeça em meu mundo interior, feito de lembranças, dores e sofrimentos… E uma pergunta se faz relâmpago, no firmamento de minha alma:
– Até no céu haverá inimigos se metendo em nossa horta?
Sim, sou filho da roça e muitas vezes vi meu pai semeando trigo.
Também ouvi minha mãe a exclamar, questionando meu pai: “Toni, como nascer tanto Joio em meio ao trigo? Essa praga desse joio?”
E Jesus ensinava: “O Reino dos Céus é semelhante a: um dia o semeador saiu a semear… veio o inimigo e semeou joio…
E um vulcão rosna dentro de mim e, súbito, vomita larvas incandescentes de raiva e nuvens de cinzas, feitas de confusão e perguntas:
– Então me ensinaram tudo errado? O Céu, o Paraíso não é um lugar feito de paz, harmonia e alegria? Onde corais de vozes angelicais e orquestras de arpas e violinos encantam todos os que mereceram viver na presença de Deus…?
Sim, por que teriam mentido pra mim e pra tantas outras crianças, homens e mulheres?…
Sim, porque Jesus não pode estar mentindo quando diz, segundo o Santo Evangelho, que no Reino dos Céus também vem o inimigo e semeia “essa praga desse joio…”
Somente muitos anos depois, estudando o Poder da mente e a Ciência Cristã Americana, pude entender que “O Reino dos Céus” de que Jesus fala não tem nada a ver…
Pude entender que “O Reino dos Céus” de que Jesus fala, nada tem a ver com o Céu e o Paraíso, apresentado como recompensa, após a morte do corpo físico…
“O Reino dos céus” de que Jesus fala, é o subconsciente, a função mecânica, automática e autônoma da mente, como quando Jesus afirma que “O coração humano é semelhante a um campo, no qual crescem trigo e espinhos”
Cabe a nós, fazendo uso consciente, da função racional da mente humana, cultivar trigo e não espinhos. Também cabe a nós lembrar: “vigiai e orai, para não cair na tentação dos fofoqueiros que, durante a noite da distração… deixar-nos levar pelas “fofocas ou joio” das comadres e compadres, dos pregadores improvisados, da escravidão das hipóteses científicas, e de mil espécies de palpiteiros entusiasmados…
Hoje compreendo o alerta de Jesus de Nazaré e busco aperfeiçoar o meu “Reino dos Céus” que existe em mim…
Por isso busco continuamente:
– Cultivar adequadamente, meu terreno mental;
– Domesticar jeitosamente, minha besta interior;
– Comandar eficientemente, meu robô invisível…
Com dedicação e perseverança, já consegui rasgar os velhos diplomas de pobre e sofredor e ingressar paulatinamente no Reino dos Céus.
Convido você a fazer o mesmo, se quiser.