Questionando Deus e os Homens

I – Deus rouba crianças?

Descobri nos últimos tempos, que como Depressivo, Paranormal e Superdotado, sou possuidor de três baús de talentos.

Eu tinha cinco anos de idade, quando vi e ouvi minha mãe chorar e soluçar de dor emocional.

Ela perguntava para as vizinhas, amigas e comadres: “Por que Deus faz isso comigo? Olhem aí, meu Jamir, o segundo Jamir está morto. Eu, se eu pudesse, dava um tapa na bundinha daquele menino chato, deitado dentro do caixão de madeira que meu pai fabricara para ele, faria o menino chorar, despertando-lhe a vida”.

O rosto entre as mãos, mamãe chorava convulsivamente…

Joana Forchesatto, tentando consolar minha mãe, afirma: – “Olha, Angelina, vocês precisam cuidar dos outros três meninos que Deus lhes deu. Quem sabe daqui a pouco ele pode te mandar uma menina.

– Lá, em Concórdia, Deus já me levou outros dois, os dois que eu trouxe do Rio Grande: o Jamir, o mais velho e a Adelina, a Adelina, minha única menina.

E, os soluços compulsivos de minha mãe inflamaram meu coração…dói meu peito e uma raiva assustada cresce dentro de mim. “Que Deus estúpido é esse, que faz isso com minha mãe? Credo! Pensar assim é pecado. Eu ainda não tenho sete anos, por isso ainda não faço pecado. Não tenho idade da razão. Não entendia bem como era isso. Mas, o importante é que o diabo não pode me levar para o inferno. Se é verdade que é Deus que faz isso com minha mãe, ele é um estúpido, um bandido!”.

Quando me dei conta, eu estava deitado sobre a minha cama, soluçando.

Eu queria ajudar minha mãe a cuidar do nenê! Exclamava eu, quando alguém veio consolar-me.

Em decorrência disto, desde minha infância, pulsavam dúvidas e questionamentos em meu coração e muitas vezes faziam estremecer o meu cérebro, mergulhando nos arcanos de minha alma…

Meu soluço era feito de uma confusão de sentimentos: raiva contra a doença e contra Deus. Imensa vontade de consolar e ajudar minha mãe e meu pai. Sim, meu pai estava triste.

Quando foi levantada, a cruz que iria à frente da procissão que levaria o corpo do meu irmãozinho à capela e depois ao cemitério, um silêncio mortal se fez em nossa casa. Mamãe ficou de pé, apoiada à porta da casa, olhando para o caixão que se afastava.

– Vão acompanhar o irmãozinho de vocês – era a voz da mamãe que reunira forças para falar com Lírio, Nelson e eu.

Outros meninos se prontificaram para ir conosco.

– Eu não vou! – respondi com firmeza, atitude nada habitual em Pedrinho, sempre covarde pela timidez. Sentei-me na escada, aos pés de minha mãe.

Pouco depois mamãe senta a meu lado e, entre soluços, fala-me:

– É por você, meu Pedrinho, que eu ainda acredito e confio em Deus.

– Por que, mamãe? – pergunto, com o coração subitamente inundado por uma alegria inesperada.

– Quantas vezes parecia que você também ia morrer. Mas você está aqui, magrinho, porém forte e sapeca. E mamãe me abraçou como nunca havia feito. Foi um abraço único. E decidi que para fazer a alegria de mamãe, eu seria capaz de estudar para padre.

Quem sabe lá no seminário, iria entender melhor esse Deus estúpido que mata crianças, arrancando-as do colo de suas mães.

Sim, eu iria ser Padre, para rezar muitas missas, para fazer muitas mães felizes com seus filhos. Eu vou ser obediente, alegre, divertido e fazer minha mãe rir bastante.

Depois virá a alegria de me ver ir embora, não para o cemitério, e, sim, para o seminário, vestir batina e celebrar a primeira missa, e depois muitas missas pela saúde, pela prosperidade, pela felicidade desses colonos que tanto lutam para viver.

E Deus ainda mata seus filhos.

Aquela noite, ao deitar, para dormir, minha cabeça fervia…

Minha mãe veio fazer o sinal da cruz sobre mim, e ouvi sua voz:

– “Ainda bem que esses anjos dormem em paz e não sofrem como eu”.

Sento na cama e digo:

– “Mamãe vou ser Padre”.

E dormi pensando que lá no seminário, deveria conhecer um Padre sábio que me ajudaria a entender melhor esse Deus, que eu agora não era capaz de compreender.

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