Após a II Grande Guerra, São Paulo começa a brotar do Vale do
Anhangabaú em cogumelos multiformes: – arranha-céus, pontes e viadutos,
avenidas e ruas, muitas ruas ladeadas de casas, casarões, prédios,
muitos prédios…
– É a explosão do progresso de São Paulo, orgulho de um novo Brasil.
Porém, “Tudo o que inflaciona, perde valor!”
Neste Natal de 2010, mais uma vez outras exclamações se fazem ouvir…
– Socorro!… Lamentos e choros se fazem ouvir, enquanto a enxurrada
leva carros, devora pessoas e arrasa os bens conquistados com tanta
dedicação, esforço e suor…
– Não tenho mais nada! Tudo o que eu tinha, a água levou e destruiu!
É inevitável, lembro-me da década de 1960, quando vivi na Paulicéia
Desvairada. Bom tempo aquele de estudante e de poeta. Os poemas
“Anuncio” e “Parado no Viaduto Parado” vêm à minha mente…
E ouço gritos ecoando de diferentes épocas:
– Tietê, meu lindo Tietê, glorioso caminho de bandeirantes! que fizeram
de ti?…
– Hoje, tu és a passarela da Vergonha Paulistana, feita de ignorância e
estupidez… Tuas águas deram lugar a um nojento esgoto a céu aberto,
carregando o lixo da estultice e da maldosa ignorância do egoísmo e da
falsa facilidade!
– A Natureza se vinga! A Natureza se vinga!…
– Não, meu caro, a Natureza não se vinga. Ela busca somente a
reconquista do equilíbrio natural!
– Por isso, os rios voadores da Amazônia jorram suas águas sobre São
Paulo, a fim de lavar a nojeira que estopem os canais de concreto e de
asfalto, impermeabilizando outrora glorioso solo paulistano. E os rios
voadores fazem-se rios improvisados, arrastando tudo: lixo, carros,
pessoas e entulhos… Coitado do meu Tietê! o
E ouço notícias que deixaram de ser gloriosas, para proclamarem a
estupidez do orgasmo tecnológico e consumista:
– 1.200 carros novos são arremessados às ruas da doente Capital
Paulista, cujas artérias precisam de mais pontes de safena do enfartados
seres humanos enfartados…
Neste Natal vejo muitas, muitas pessoas – ou seriam formigas
atrapalhadas e confusas? – carregadas de presentinhos dentro de grandes
e coloridas embalagens, que já, já se fazem montanhas de lixo urbano que
assusta o meu Tietê…
– É terrível saber pensar e ver mais que um palmo diante do nariz…
Mais possuir imaginação que permite ver esse terrível longa-metragem
desse Natal concebido, gerado e dado à luz pelo Egoísmo individualista
e doentio,pela compulsão consumista e pelo s marqueteiros da ilusão e
de montanhas de bugigangas tecnológicas…alienação
– Socorro! os gafanhotos humanos já destruíram a Floresta Atlântica, com
suas maravilhas insubstituíveis! Onde estão os pinheirais de
araucárias?
– Estão destruindo o Serrado, a floresta amazônica…
´- Estão sufocando os mares e eliminando o oxigênio das algas
marinhas…
– E tu, São Paulo, até quando sustentarás a Floresta Geométrica?