Poema e Poeta

Meu poema não é um lamento

Ainda que lamente a sorte

Dos órfãos exportados do Vietnã

– Exótica mercadoria humana.

 

Meu poema não é protesto

Ainda que proteste contra a moda

O desfilar da alta moda

Sobre a passarela de esqueletos vivos

Sobre tapetes de sombras com olhos humanos.

 

Meu poema não é profecia

Ainda que prediga a catástrofe

Do mundo rolando na cratera do vício

Sobrando o oco do coração órgão

Sobrando a cinza do nada da extinta matéria.

Meu poema não é processo

Ainda que processe a injustiça

Concebida no leito da ambição e do egoísmo

Alimentada pela volúpia avara

Germinada na placenta do materialismo.

 

Não é Romântico meu poema

Quando canta o amor

Não é libertário

Se canta a liberdade

Não é lírico ao cantar sentimentos

Cântico não é – nem lamento

Profecia não é – nem protesto

Não é processo.

É espelho – nada mais.

 

Canoinhas – 1976.

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